Por que a pressa? Fui reticente demais na investida que cheguei a causar desconfiança? Não gosto de sombras, você sabe, prefiro um caminho limpo e seguro a esse mistério que habita bem no fundo desses olhos amendoados e cheios de si. Por que eu também tento me disfarçar? É como se sempre eu estivesse dando um passo em falso; não consigo traduzir nem em palavras nem em gestos o que quero de verdade... E também tem a sua pressa, a insconstância, as fugas... Essa mania que a gente tem de querer fazer da vida um poema e construir castelos de vento... É uma nostalgia doce e amarga ao mesmo tempo. Uma nostalgia contínua!
Ando tão inexata que tenho me ocultado de mim mesma, juntando lembranças para formar alguma coisa densa, algo que fique entre o final de um dia e a expectativa de outro e que não soe como ilusão ou armadilha para os próximos meses. Muita coisa se manteve intacta, eu sei, mas, na verdade, muito já se perdeu, e o meu desejo era poder segurar entre as mãos o que havia de mais ilógico, insano, inexplicável - escapou-me a coerência, no entanto, por entre os dedos. Mas eu sempre tive essa mania de querer manter vivo o que penso que faz sentido, as mãos aquecidas, o coração em profusão, a cabeça em nuvens. E você é tão contumaz!
Olhando assim nos seus olhos, esse cheiro de café que lembra obrigação, as suas mãos que não param de cumprir alguma coisa, o que eu queria encontrar nesse momento impróprio parece tão ínfimo e sem sentido. É uma hora imprópria, eu sei, para aprofundar um sorriso, aproximar para um beijo, fazer o dia melhor. Eu queria agora sonho, promessa, gargalhada, um dia furtivo, sorriso meigo, música, dança, um passo à frente e verdade no olhar. Quem sabe dizer tudo e nenhuma palavra, fazer verter a esperança de uma noite mais tensa, intensa, profana, inculta...mas bela. Apenas poder desenhar novamente o meu nome nos seus lábios."
De Ariana, em 01/07/09.
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